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Quando o ninho silencia por alguns dias (e o coração grita)

  • Foto do escritor: Isabel Debatin
    Isabel Debatin
  • 30 de jul.
  • 3 min de leitura
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Tem silêncios que machucam. Não porque trazem paz, mas porque tiram da cena alguém que preenche todos os cantos da casa, e do peito. Foi assim quando o Gus viajou por 15 dias. E pela primeira vez, desde que ele chegou ao mundo, o meu mundo teve que se reorganizar sem ele aqui.


Sou mãe de dois meninos. O Gus, que vai fazer 11, e o Antônio, que tem 1 ano e 10 meses. E, por mais que hoje sejamos quatro, por muito tempo fomos só nós dois: eu e o Gus. A vida se moldou a esse vínculo. Tudo que eu fazia era com ele, por ele, por nós. Cada plano, cada sonho, cada viagem possível, ele estava incluído. Moramos juntos, crescemos juntos, amadurecemos um com o outro.


Quando o pai dele foi embora do país, no início do ano, veio o tempo da separação física. Seis meses longe. E, nas férias de julho, finalmente chegou o momento de ele ir visitá-lo. Era justo. Era importante. Era necessário. Mas ninguém nos prepara para o dia em que a criança que nasceu de você vai viver algo importante... sem você.


Na véspera da viagem, eu colapsei. Crise de ansiedade. Crise de enxaqueca. O corpo gritando por uma emoção que eu não conseguia nomear. Eu sabia que sentiria falta. Mas só depois que ele embarcou é que entendi o que era isso: um vazio que eu não conhecia.


E não é tristeza por ele ter ido. É felicidade e orgulho por ele viver essa oportunidade, misturada com o vazio natural de não tê-lo aqui. Eu demonstrei que ia sentir saudade. Disse pra ele aproveitar tudo, que era uma chance única. Mas só depois percebi que estava anestesiada. O luto da ausência veio aos poucos, em silêncio.


E não, não senti culpa por sentir isso. Se eu não estivesse sentindo, aí sim seria estranho. É natural sentir saudade de um filho. É humano. É instintivo. E a gente precisa falar sobre isso. Falar que sente falta, sem ser julgada. Falar que sente um aperto no peito, mesmo apoiando cada passo.


Quando os filhos nascem, a gente remodela tudo. Eles entram na nossa vida e viram o centro. A rotina, os horários, os sonhos... tudo gira em torno deles. E, quando um filho vai, ainda que por um tempo curto, a casa inteira muda de eixo. A nossa também. Com o Gus longe, a rotina com o Antônio teve que se reinventar. Os horários mudaram. A energia da casa ficou diferente. E, entre um almoço e outro, entre um filme e um login no Netflix, as lembranças dele apareciam como pequenos recados de saudade.


O que eu aprendi nesse tempo?


Aprendi que guardar o que a gente sente adoece o corpo. Que o silêncio interno pode virar sintoma. E que externalizar, seja na terapia, com alguém de confiança ou escrevendo, é essencial. Aprendi que sou uma mãe coruja. Que boto debaixo da saia. E que, sim, tive que lidar com a ausência. Mas é uma ausência com prazo final. E o mais importante: ele está feliz. E isso importa demais.


O que eu gostaria que outras mães soubessem?


Que cada uma sente à sua maneira. E todas são válidas. Mas se tem uma coisa que eu acredito com força é: a liberdade que a gente dá pros nossos filhos é o que faz com que eles voltem.


Fui uma filha com liberdade. E isso nunca me afastou dos meus pais, pelo contrário, me deu vontade de voltar. É isso que eu tento passar pro Gus. Essa viagem é só o começo de muitas. E eu quero que ele saiba que pode explorar o mundo, porque tem uma casa esperando por ele.


Sinta saudade. Chore, se for preciso. Não se cale. E encontre um lugar seguro pra falar sobre isso, porque esse lugar pode salvar você de adoecer. Não é fraqueza sentir saudade. É amor em estado bruto.


O filho pode viajar o mundo. Mas o coração da mãe continua sendo o lugar pra onde ele volta. E, mesmo quando o ninho silencia, o amor que grita dentro da gente é o que mostra que estamos, e sempre estaremos, conectados.

 
 
 

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