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Rage bait: a palavra do ano e como a raiva virou estratégia digital

  • Foto do escritor: Isabel Debatin
    Isabel Debatin
  • 8 de dez.
  • 2 min de leitura
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Este ano, uma palavra ganhou força silenciosa e, de repente, estava em todos os lugares: rage bait, eleita pela Oxford English Dictionary, a palavra do ano. Ela significa: a isca da raiva.


Conteúdos feitos para provocar, cutucar, inflamar. A lógica é simples: quanto mais indignação, mais comentários, mais compartilhamentos, mais alcance. Na prática, é a internet descobrindo que a raiva dá dinheiro.


Estudos mostram que a indignação se espalha mais rápido do que qualquer outra emoção. A tristeza chega devagar, a alegria exige contexto… mas a raiva? A raiva viaja com velocidade de faísca. Uma frase exagerada, um recorte sem nuances, uma acusação jogada no ar, e pronto. Gente discutindo, algoritmos trabalhando, o conteúdo crescendo. O objetivo não é diálogo, é engajamento.


O contraste é curioso. Apenas um ano antes, em 2024, a palavra que definia o espírito do tempo era brain rot: aquele entorpecimento mental causado pelo excesso de conteúdo superficial e repetitivo. Vídeos curtos, humor nonsense, dopamina imediata. Um torpor coletivo. Agora, o pêndulo virou. O vazio deu lugar ao choque. O anestesiamento deu espaço à explosão emocional.


De um lado, vemos pessoas expondo suas vidas em detalhes minuciosos: rotina, corpo, dieta, filhos, opiniões. Quase como se existíssemos somente quando somos vistos. De outro, cresce um movimento silencioso: gente cansada, saturada, exausta das redes. Apagam apps, postam menos, ficam mais em casa com suas realidades, sem testemunhas. Estão de “saco cheio”, não dos amigos, mas da cobrança invisível de estar sempre presente, sempre opinando, sempre com algo a dizer.


Rage bait e brain rot são sintomas diferentes da mesma coisa: estamos emocionalmente exaustos.


A Internet virou um ambiente de barulho constante. Ou rimos sem pensar, ou brigamos sem respirar. Entre uma anestesia e uma explosão, ficamos sem espaço para nuance. Aquela zona delicada onde conversas acontecem, onde ideias amadurecem, onde o humano se encontra.


A boa notícia é que muita gente está escolhendo um outro ritmo. Comunidades menores. Conversas mais gentis. Mais silêncio, menos espetáculo. O luxo novo é não precisar ser visto o tempo todo. Estar presente somente onde faz sentido.


Talvez este seja o caminho: menos gritaria, mais intenção; menos reação, mais presença; menos isca, mais verdade.


No fim, aquilo que sustenta é o mesmo que sempre sustentou: vínculos reais, tempo que não vira moeda, vida vivida do lado de dentro.

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