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O que você precisa saber antes de dizer que “não precisa de terapia”

  • Foto do escritor: Isabel Debatin
    Isabel Debatin
  • 30 de mai.
  • 3 min de leitura

A gente normalizou o cansaço emocional. O desânimo. O “tá tudo bem” dito no automático. E, com isso, fomos empurrando a ideia de fazer terapia pra depois. Pra quando a vida parar. Pra quando o corpo pedir socorro. Pra quando a mente já estiver implorando por silêncio.


Mas por que esperar o colapso?


Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o país mais ansioso do mundo. E, nos últimos anos, a busca por medicamentos psiquiátricos aumentou em mais de 20%. Só que, ao mesmo tempo, a procura por terapia ainda é cercada de preconceitos, julgamentos e desinformação. É como se cuidar da saúde mental fosse um ato extremo — quando, na verdade, deveria ser uma prática preventiva.


A terapia ainda assusta porque exige um tipo de coragem que nem todo mundo está pronto pra encarar: a de se olhar de verdade.


A coragem de parar de empurrar a poeira pra debaixo do tapete.

De ouvir aquilo que a gente finge que não sente.

De aceitar que nem tudo se resolve sozinho.


O que pouca gente diz é que existem muitas formas de viver esse processo. A ideia de “deitar no divã” não é a única. A psicanálise é uma entre várias abordagens. Tem a TCC, mais estruturada e prática. A gestalt, que trabalha o aqui e agora. A abordagem centrada na pessoa, que valoriza a escuta ativa e empática. E tantas outras. Cada uma com sua linguagem, ritmo e profundidade. Encontrar a certa é quase como escolher um livro: você só entende se gosta quando começa a ler.


E se não se identificar com o primeiro terapeuta, tudo bem. A relação entre paciente e profissional é construída. Às vezes leva tempo. Às vezes não encaixa. E trocar de terapeuta não é fracasso — é autoconhecimento.


No livro Talvez Você Deva Conversar Com Alguém, Lori Gottlieb escreve:


“A verdade é que o que mais machuca não são as grandes tragédias, mas os pequenos vazamentos diários que a gente ignora por tempo demais.”


E é exatamente isso. A gente vai empilhando dores, frustrações, lutos não vividos, raivas engolidas. Vai se adaptando ao que não faz mais sentido, até que não dá mais. A terapia é o espaço onde a gente aprende a abrir essas gavetas com calma, sem culpa, com escuta.


Mas é claro que nem todo mundo está pronto. Às vezes, porque acha que “não precisa”. Outras vezes, porque não sabe por onde começar. E também há quem acredite que terapia é coisa de gente fraca — quando, na verdade, é preciso uma força imensa pra se encarar de frente.


Terapia não é conserto.

É processo.

É espaço de escolha.

É onde a gente aprende a reconhecer os próprios padrões, a ajustar o que já não encaixa, a dizer “não” sem se sentir culpada.


“Às vezes, o terapeuta não oferece respostas”, diz Lori, “mas ajuda a encontrar as perguntas certas.”


E é isso que transforma. Porque a terapia não tira sua dor, mas te ensina a cuidar dela. Não apaga sua história, mas te ajuda a reescrevê-la com mais consciência. Não resolve por você, mas caminha junto — até que você perceba que pode andar com mais leveza.


Se existe um momento ideal para buscar ajuda, talvez seja agora. Não quando tudo desmoronar. Não quando o corpo implorar. Mas agora — enquanto ainda é possível prevenir, fortalecer, curar.


E se você é mãe, pai, cuidador ou responsável por alguém, leve essa reflexão adiante. Que presente seria oferecer a um adolescente o direito de se conhecer com mais profundidade? De entender que sentir não é fraqueza, que pedir ajuda não é vergonha e que saúde mental importa — desde sempre.


Talvez você deva conversar com alguém.

E talvez essa pessoa precise ser você mesma, com apoio, com acolhimento e com intenção.


Porque nem tudo se resolve sozinho. E tudo bem.



Um abraço carinhoso,

Isabel Debatin

 
 
 

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