Quando pintar vende mais do que ler: o sucesso dos livros Bobbie Goods
- Isabel Debatin

- 7 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 27 de jun.

Foto: Reprodução/Pinterest Juliana Télles
Bobbie Goods — um livro de colorir com estética retrô e desenhos fofos — entrou na lista dos mais vendidos no Brasil. Entre os 11 títulos mais procurados, 4 são livros de colorir. A pergunta que não quer calar é: o que isso diz sobre a gente?
Por um lado, parece um respiro. Uma tentativa de sair das telas, de fazer algo manual, de desacelerar. De recuperar aquele prazer simples de preencher espaços com cores, como fazíamos na infância. Por outro, não é curioso como esse momento “offline” já nasce com potencial de virar conteúdo para o Instagram ou TikTok?
Entre a canetinha e o engajamento
O movimento é bonito: pessoas reaprendendo a pintar, a sobrepor camadas, a estudar luz e sombra com tutoriais caseiros. É como se a estética “Bobbie Goods” tivesse se tornado uma nova linguagem visual — com perfis inteiros dedicados a ensinar técnicas de coloração, misturas de tons e efeitos de profundidade. Canetinhas, lápis, papéis específicos. Tudo isso virou assunto.
Mas junto com essa onda, vem um ponto de atenção: estamos mesmo nos desconectando... ou só criando uma nova forma de performar o bem-estar?
Assim como aconteceu com os lápis de cor na época do Jardim Secreto (em 2015), agora vivemos o hype das canetinhas. Só que agora o que era hobby se tornou tendência. E o que era um passatempo virou um termômetro de comportamento.
Pintar sim; Ler? Talvez depois
Uma manchete do The News resumiu bem: “Pintar virou bestseller”.
E se por um lado isso pode indicar um novo jeito de lidar com o estresse e a ansiedade, por outro, é impossível ignorar o dado: livros de colorir estão no topo da lista de vendas, enquanto obras literárias, ficções, ensaios e reportagens aprofundadas ficam cada vez mais esquecidas no fundo da prateleira.
Isso nos leva a um termo que tem aparecido com mais frequência nas discussões sobre o impacto das redes sociais: brain rot. O “cérebro apodrecendo” causado pelo consumo excessivo de conteúdos rápidos, fáceis, dopaminéricos. Numa rotina viciada em estímulo, quem ainda aguenta uma história com 400 páginas e desenvolvimento lento?
Talvez pintar seja, hoje, o que conseguimos sustentar. Porque exige um mínimo de concentração, mas não tanto quanto um livro. Porque dá uma sensação de fazer algo “fora da tela”, mas ainda cabe num reels.
No fim das contas… Não é sobre criticar quem colore (aliás, que delícia colorir!). É sobre perceber o quanto até mesmo o que chamamos de pausa já vem formatado para o consumo. O que era hobby virou algoritmo. E o que era autocuidado virou conteúdo.
Talvez pintar não seja o problema. Mas sim o fato de que, até no silêncio das cores, a gente precise se manter interessante.
Um abraço carinhoso,
Isabel Debatin



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