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A geração que trocou o drink pelo tarja preta

  • Foto do escritor: Isabel Debatin
    Isabel Debatin
  • 8 de jul.
  • 2 min de leitura
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A Geração Z bebe menos. Mas também dorme menos. Respira menos. E, muitas vezes, sofre mais.

Enquanto os millennials se preocupavam com a ressaca física, a Gen Z teme a ressaca moral [aquela vergonha tardia por algo dito ou feito sob efeito do álcool. [Quem nunca, hehe.].


Mais conectados ao discurso da saúde mental, do autocuidado e da performance constante, os jovens estão trocando o copo por algo mais discreto, mas nem por isso mais leve: os remédios controlados.


Pesquisas recentes apontam que 84% dos jovens brasileiros entre 18 e 25 anos não consomem álcool regularmente, e o termo “sobriety shaming” (discriminação pela sobriedade) já é realidade em festas e círculos sociais, onde se espera que a normalidade venha acompanhada de um copo na mão.


Mesmo assim, a Geração Z não quer abrir mão do controle, da clareza mental, do corpo saudável. E principalmente, não quer pagar caro por algo que comprometa isso tudo.


Esse movimento cultural vem acompanhado de um novo mercado: o de bebidas sem álcool. O consumo de mocktails cresceu 37,5% entre 2018 e 2022, segundo a IWSR. No Brasil, a vinícola Aurora foi pioneira ao lançar espumantes brancos sem álcool, e agora também rosés.


A lógica é simples: manter a estética e a experiência, sem perder a sobriedade.

A sobriedade virou uma escolha. Às vezes difícil, mas consciente.


Mas aqui começa a virada preocupante.


Ao mesmo tempo que se orgulha de beber menos, essa geração tem se tornado dependente de outras válvulas de escape. Em vez de um gole, uma cápsula. Em vez de um shot de tequila, um comprimido de tarja preta. O uso de ansiolíticos, antidepressivos e estimulantes cresceu mais de 11% no Brasil entre 2022 e 2023, e os jovens estão no topo dessa estatística. Muitas vezes, sem acompanhamento profissional, movidos por vídeos no TikTok, dicas de conhecidos ou puro desespero por alívio rápido.


Não é que essa geração esteja errada em querer se cuidar.

O problema é o modo como isso acontece.


O discurso do “faça o que for preciso para se sentir melhor” nasceu como resposta à produtividade tóxica, mas foi sequestrado por um imediatismo perigoso. Hoje, ele muitas vezes justifica comportamentos que não curam, apenas silenciam por algumas horas. A automedicação, nesse contexto, parece autocuidado. Mas pode ser abandono.


E mesmo com tanto acesso à informação, o preconceito com a terapia ainda é real.

Admitir que faz acompanhamento psicológico ainda assusta muita gente. Muitos preferem engolir o sofrimento, apenas anestesiar com medicamentos, do que encarar o desconforto de se olhar com profundidade. A terapia exige tempo, entrega, e nem sempre oferece respostas prontas, mas é justamente por isso que funciona.


O acesso à terapia também ainda é elitizado. Os planos de saúde não cobrem como deveriam. A rede pública é insuficiente. E os algoritmos que tanto falam sobre saúde mental também contribuem para banalizá-la.


Afinal, o que vale mais: o controle ou o cuidado? O desempenho ou o descanso?

Essa geração abriu mão do álcool, mas talvez tenha abraçado o sintoma.

E a pergunta que fica é: a troca justifica?


*Imagem criada pro IA.

 
 
 

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