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A gente não cura aquilo que não enxerga

  • Foto do escritor: Isabel Debatin
    Isabel Debatin
  • 30 de abr.
  • 2 min de leitura

Tem dias em que a gente se sente a própria mocinha do filme. A injustiçada. A que só queria um final feliz e, por algum motivo, foi sabotada pelo universo ou por alguém. E olha, tudo bem. Todo mundo já passou por esse papel — e ele é mesmo tentador. Mas talvez a cura comece justamente quando a gente se tira desse lugar e começa a se olhar com mais verdade.


É muito mais fácil apontar o que o outro não fez, o que poderia ter dito, o que deveria ter evitado. A gente cria expectativas, idealiza cenas, roteiriza falas. Mas raramente se pergunta: e eu? o que fiz com o que me aconteceu?


Tem dores que a gente empurra pra dentro da gaveta da alma. Finge que esqueceu. Fecha e torce pra nunca mais ter que abrir. Mas a verdade é que quanto mais a gente ignora, mais essas dores gritam. E uma hora, a gaveta emperra. Fica pesada, desorganizada, difícil de lidar.


A gente não cura aquilo que a gente não enxerga. E enxergar dói. Dói admitir que a gente também erra, que também carrega sombras, que nem sempre tem razão. Dói ter que encarar os próprios fantasmas — aqueles que a gente jurava que já tinham ido embora.


Mas dói mais ainda repetir os mesmos ciclos, se ferir nos mesmos lugares, tropeçar nas mesmas histórias.

A cura, muitas vezes, começa no desconforto. No ato corajoso de abrir a gaveta, tirar tudo de dentro, olhar com carinho e colocar em ordem. Seja na terapia, numa conversa honesta, numa escrita despretensiosa — ou até num silêncio necessário. O importante é não seguir fingindo que está tudo bem quando não está.

Porque tem coisa que o tempo ameniza. Mas tem coisa que só a gente pode resolver.


Um abraço carinhoso,

Isabel Debatin

 
 
 

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