Depois da maternidade, quem sou eu?
- Isabel Debatin

- 17 de set.
- 3 min de leitura

Se você olha no espelho e não se reconhece mais, se sente perdida nos primeiros dias ou semanas depois que seu bebê nasceu, saiba de uma coisa: você não está sozinha. Muitas mulheres passam por essa sensação de que a maternidade engole tudo. E é mais comum do que você imagina…
Quando meu segundo filho nasceu, eu não me tornei apenas mãe de dois. Eu virei só mãe, ponto. Pelo menos foi assim que eu me senti.
No meu primeiro parto, a história foi outra. Eu era muito nova, tinha 21 anos, e fui mãe solo. Mas eu morava com a minha mãe, e ela me deu tanto apoio que eu não senti aquele baque de perder quem eu era. De verdade, não existiu um momento em que eu parei pra decidir que a partir dali seria só mãe, e continuei sendo tudo que eu era + mãe. Claro, existiu a solidão dos primeiros dias, o choro que parece não ter fim, a oscilação hormonal que nos joga para baixo. Mas, no fundo, eu ainda era Isabel: filha, amiga, profissional.
Já no segundo filho, a realidade foi outra. Eu estava noiva, morava com meu companheiro, e senti que precisava assumir a skin mãe 100%, integral. Larguei a profissão, me afastei naturalmente da minha vida social, me fechei por consequência. Passei a acreditar, inconscientemente, que a maternidade exigia exclusividade, e tudo o que eu era antes foi ficando para trás. Entrei tanto nesse modo que me perdi de mim mesma.
E aqui está a questão: quantas de nós já não se sentiram assim?
Quantas acreditaram que, para ser mãe de verdade, precisavam abrir mão de quem eram antes?
A verdade é que ser só mãe não é possível. Porque nenhuma de nós é apenas mãe. Nós somos mães, mas também somos filhas, amigas, profissionais, esposas, mulheres que gostam de ler, de sair, de descansar, de sonhar. Continuamos sendo tudo isso, mesmo quando o mundo (ou nós mesmas) tenta nos convencer do contrário.
Na terapia, entendi que havia algo mais profundo nessa anulação. Eu sou filha adotiva e perdi meu pai biológico quando tinha pouco mais de um ano. Essa ausência me marcou de um jeito que só fui perceber adulta. Cresci com medo da perda, medo da morte (não só a morte literal, mas a morte dos ciclos). E quando meu segundo filho nasceu, eu não soube lidar com a “morte da mãe de um” para nascer a mãe de dois.
Depois de muitas, mas muuuuitas sessões de terapia, eu consegui entender o básico: a vida é realmente feita de encerramentos e começos, mesmo que não saibamos lidar com eles. Algumas portas precisam se fechar para que outras se abram.
Eu jamais voltarei a ser mãe de um; agora sou mãe de dois. E assim por diante.
Talvez esse seja o convite da maternidade: entender que a cada fase, a cada filho, a cada escolha, nós nos transformamos. E essa mudança não nos pede para nos perdermos, mas sim, para expandirmos.
Ainda estou nesse processo de aprender a dosar maternidade e individualidade. Mesmo não sendo mãe de primeira viagem. Cada experiência é única, e a cada fase somos diferentes quando nos permitidos mudar. Não se trata de escolher entre ser mãe ou ser mulher, pois sempre serei mãe, mas também sempre serei eu.
E talvez a resposta esteja nas pequenas coisas: ler três páginas de um livro, tomar um banho sem pressa, sair para caminhar, escrever algumas linhas no caderno. São gestos simples, mas que nos lembram: eu continuo aqui.

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