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O luto do desmame

  • Foto do escritor: Isabel Debatin
    Isabel Debatin
  • 18 de abr.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 23 de abr.

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Muito se fala sobre os benefícios da amamentação. Sobre como o leite materno é o alimento mais completo, sobre o vínculo, sobre o ato de amor. Mas quase não se fala da dor do fim. Da dor do desmame — que também é, muitas vezes, o luto de uma mãe.


Talvez porque essa dor seja silenciosa. Porque não é uma dor de sangue, de osso ou de ferida visível. É uma dor interna, quase secreta. Um aperto no peito que chega sem aviso, às vezes no meio de uma viagem, dentro de um carro, no meio do dia, sem um motivo aparente — mas com uma explicação que só o coração conhece: acabou.


O desmame, seja quando parte da mãe ou do bebê, nunca é simples. É uma escolha carregada de ambivalências: por um lado, há o desejo de retomar partes suas que ficaram em pausa — o sono, a liberdade de sair sem pensar na próxima mamada, a autonomia sobre o próprio corpo. Por outro, há a culpa, a dúvida, o medo de estar tirando algo precioso demais, cedo demais.


É um dilema que ninguém pode resolver por você. Porque o mundo até dá palpite — e como dá! —, mas não sente o que você sente. Não carrega os hormônios se reorganizando. Não entende a montanha-russa emocional que vem quando a fábrica de leite fecha as portas de repente. Quando o bebê que ainda mamava uma, duas, três ou mais vezes por dia agora apenas te olha, sem pedir mais. Ou ainda pede, e você precisa dizer: o mama foi embora. Nessas horas você se pergunta: “Será que eu devia ter esperado mais um pouco? Será que ele ainda precisava?”


O corpo sente, sim. E a mente, mais ainda.


E, por isso, é tão importante dizer: desmamar também é um processo. Também exige acolhimento, compreensão, escuta. E merece menos julgamento.


A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria é de amamentar até os dois anos ou mais — e mesmo assim, mães que seguem isso ainda são criticadas por “demorar demais” a encerrar esse ciclo. Já aquelas que escolhem parar antes dos dois anos, muitas vezes são acusadas de desistir cedo demais.


É uma corda bamba difícil de caminhar. Porque, de um lado ou de outro, parece que a gente nunca acerta.


Mas o que ninguém fala é que, por trás de qualquer decisão, há uma mãe tentando fazer o seu melhor. Uma mulher que abdicou de muitas coisas para viver esse vínculo — alimentos, bebidas, cosméticos, autonomia. Que esteve presente a cada mamada. E que, agora, precisa se reinventar nessa ausência.


Desmamar também é um tipo de renascimento. Do bebê. E da mãe.


E se esse processo te fizer chorar de repente, se doer mais do que você imaginava, saiba: você não está sozinha.



Um abraço apertado, de mãe pra mãe,

Isabel Debatin

 
 
 

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